domingo, maio 23, 2010

Eu, tu, ele...

         Silêncio. Quietos, mudos quando ele passou. Suas bocas tão cerradas que só se ouvia o ranger dos dentes. Menos ele. O homem não falava absolutamente nada, sorria somente. Seus dentes não eram tão brancos, sua boca era carnuda, e seu sorriso, largo. Seu olhar era vago, mirando o infinito, parecia não ver os olhares inquietos o observando. Um cigarro numa mão, levando-o a vezenquando.
         Raiva, não daquele homem – claro, conseqüentemente dele também -, mas de si mesmos, raiva da sua essência, de si. De tudo o que poderiam ter feito mas não fizeram. Do que poderiam ter sido, mas não são. O que poderiam ter dito mas não disseram? Raiva do que fizeram e fazem, do que foram, do que são, do que disseram e do que dizem.
         Eles nem ao menos cochichavam entre si, apenas olhavam atentos, guardando, mantendo aquele ódio, aquela amargura cada vez mais para dentro de si.
         Não iriam, falar ou abrir-se, ou apenas mudar. Nem simplesmente tentar. Só mentir, guardar mais mentiras dentro das suas geladeiras frias e cheias. E só.
         O homem magro e de olheiras fundas virou a esquina, ainda sorrindo, e instantaneamente tomaram tomaram suas posições normais, suspiraram e apertaram o passo.
                                                           LC